A foto para calar o mundo


Sabem o 11 de setembro? Todos lembram até hoje o que estavam fazendo quando souberam que as torres tinham sido atacadas. Pois, para mim, assim será sobre a foto do menino Aylan. Eu já estava encerrando meu dia. Tinha sido produtivo, dissertação, corrigi  provas, preparei aulas. Já estava indo pegar meu filho na escola, fechando minhas coisas, até que resolvi dar uma olhada na internet para ver as notícias (não sei pq ainda insisto, pois as boas são cada vez mais raras). Até que vi a imagem. A imagem mais triste dos últimos anos. De muitos anos. 



A imagem que invalidou o dia, anulou as provas e ignorou as aulas. Acabou 2015, pensei. Nunca mais serei feliz em 2015. Aylan, 3 anos, o menino sirio, com sua roupinha alinhada, seus sapatinhos amarrados aos pezinhos, seu cabelinho bem cortadinho, morto, encerrou qualquer chance de eu ser feliz em 2015.

Pq sua vida perdida, se seu sapatinho estava ali? Dava vontade de ajeitar sua roupinha, para não se resfriar. Suas costas estavam descobertas. Vontade de dizer para o guarda turco: por favor, tape as costas desta criança, se não ela vai pegar uma pneumonia!

Devaneios, pq a realidade eh outra. Acabou, não tem mais volta. Nos humilha demais como parte da falida raça humana da qual fazemos parte. Eu me senti extremamente diminuida.

O menino estava na linha entre a areia e o mar. Um lugar divertido e seguro para brincar quando se tem a idade dele. Vestiram ele tão bonitinho, e nem deu tempo de ele pisar em terra firme.

Pq estou tão devastada, se há tantas desgraças acontecendo o tempo todo? Aylan ali era todas as desgraças do mundo.

Fazer dissertação, acabar o mestrado, corrigir provas, terminar as aulas, pegar o filho na escola, tudo isso ficou pequeno demais perto da grandiosidade daqueles sapatinhos.





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